Apresentação

A idéia é tornar este blog um ambiente para reflexão e troca de informações, franqueando espaço àqueles que indagam abertamente e aos que questionam silenciosamente.
Sabendo que o mundo corporativo apresenta, diariamente, inúmeros temas para discussão, e que não poucas vezes o administrador se vê forçado a rever a lógica acadêmica e estabelecer novos parâmetros e critérios, pretende-se com esse blog alimentar a controvérsia e auxiliar seus visitantes no encontro de soluções, de forma prática, direta e divertida.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre a MOTIVAÇÃO

      Por que precisamos de motivação?

Para responder a esta pergunta é necessário compreender a mecânica dos trabalhos motivacionais e o seu propósito, que busca atender a uma demanda clara para nossa percepção, porém de origem obscura ou pouco aprofundada.
De fato, a necessidade de manter os profissionais motivados é mais uma das constatações dos estudos de Administração, que começaram pra valer no início do século XX com a observação dos tempos e movimentos e se desmembraram em dezenas de abordagens diferentes desde então. Ela advém da percepção de que profissionais desmotivados rendem menos que os motivados, e que esta “momentânea” deficiência (ou apatia) pode ser fatal em um ambiente de acirrada competitividade, onde a reação imediata pode determinar a vitória.

Cumpre acrescentar que não apenas as empresas precisam de agentes motivados. A sociedade, em todos os seus desdobramentos também precisa se servir deles, pois a intensidade é fator de qualidade em qualquer questão, das mais corriqueiras às mais complexas. Não se educa adequadamente uma criança sem asseverar com intensidade a importância dos conceitos transmitidos e nem tampouco se conclui uma complexa obra de engenharia sem concentração nos detalhes. A intensidade e a concentração são dois dos incontáveis ingredientes que permeiam a motivação, o que esclarece contundentemente a falta que esta pode fazer no dia a dia de todas as pessoas.

Imaginem o resultado de uma súbita queda de capacidade física no principal jogador de um clube na etapa final da decisão da Liga Inglesa de Futebol. A falta de “apetite” paralisando-o diante de um gol aberto, sem goleiro... Nem mesmo a visão do adversário entregue, com a mão na cabeça em sinal de desespero e a vibração de sua torcida antes do arremate final são suficientes para estimulá-lo e o nosso amigo jogador é capaz de, no máximo, um chute sem força e direção, que pode alcançar o gol, a trave ou a linha de fundo...
No mundo corporativo também há abatimento, porém, diferentemente do futebol, onde a figura do preparador físico tem lugar consagrado, não se sabe ao certo que exercícios adotar e que músculos tonificar para manter um trabalhador em permanente condição de definição, como se espera de um verdadeiro artilheiro.


      Como se motiva atualmente?

Especialistas na psique humana debruçam sobre o problema na busca de resposta para essa indagação, porém o ambiente corporativo não lhes é favorável, pois como regra, os trabalhadores consideram oportunistas todas as atividades que lidam com abstrações. Não é comum encontrar em líderes de setores disposição para aceitar a opinião das psicólogas do RH sobre a forma adequada de se abordar um funcionário problemático. E esta indisposição não é privilégio das lideranças mais humildes, localizadas nas últimas linhas do organograma, mas se estendem por toda a organização, muitas vezes até na Presidência, que admite tais práticas sob um silencioso manto de incredulidade, apenas para satisfazer pressões impostas ou motivadas pelo vácuo da ignorância. O motivo dessa incredulidade é a falta de consistência verificada nos métodos aplicados.
Reagindo em meio ao desconforto de defender métodos impalpáveis que redundem resultados materiais, os profissionais de RH abraçam soluções pueris, de questionável eficácia, enveredando pelo perigoso terreno do imediatismo. Assim, dão oportunidade ao surgimento de oradores de ocasião, normalmente armados de elementos pirotécnicos que privilegiam a forma, adornando-a, em detrimento ao conteúdo de limitada proporção. Como conseqüência, encontramos executivos enfrentando corredeiras em botes de borracha, se equilibrando em cordas estendidas entre as copas das árvores ou caminhando sobre brasas qual se fossem faquires de 80 kg.
Ao término de tantas aventuras e com os ouvidos sobrecarregados de jargões e palavras de ordem, esses líderes se sentem renovados e se acreditam aptos a uma revolução qualitativa em seu trabalho e até mesmo em suas vidas particulares. Os motivos de aborrecimento já não são, assim, considerados e os obstáculos de sempre agora serão superados, pensam... Ledo engano... O contato com as mesmas rotinas e seus problemas tendem a derrubar o, agora, “elevado” moral do Líder, iniciando um rápido regresso à condição pré-motivacional. Em seu lugar instala-se um sentimento de frustração, tomado pelo profissional como um preocupante indício de incapacidade, o qual deve por óbvias razões ser ocultado. Assim ficam as partes, a cada lado, fingindo-se medianamente satisfeitas, submersas em um ambiente de dúvidas e medo.


      Por que somos assim?

A incapacidade do trabalhador se manter permanentemente motivado tem origem na infância e no processo educacional a que foi submetido. Métodos herdados de antepassados exploram o medo das conseqüências como o principal fator na educação, agrilhoando os impulsos de experimentação e descobrimentos tão próprios do ser humano.
É preciso que se diga que o ser humano não tem, como costuma ser dito, medo do desconhecido. Tem sim, em essência, uma sadia curiosidade que garante sua evolução intelectual. O medo que se afirma natural é, de fato, imposto pela racionalidade e ganha espaços no inconsciente, como um mecanismo de defesa.
É fácil supor que a escalada da violência, resultado de um processo de urbanização acelerado, reduziu a órbita social a um numero restrito a empregados temporários, parentes esporádicos e amigos eventuais, e este estreitamento afeta a liberdade que se concede aos filhos, tornando-os cada vez mais limitados entre quatro paredes. A falta de convívio e de relacionamentos sadios, assim como os símbolos da violência e recomendações de segurança determinam o estranhamento e o medo, iniciando um círculo perpétuo baseado no medo por não conhecer e no medo de conhecer.
O medo é um instrumento poderoso, que mostrou e ainda mostra sua utilidade no objetivo maior da preservação da espécie. Agrupando as pessoas e escondendo-as no escuro das cavernas, ele contribuiu com a sobrevivência da espécie humana em um ambiente hostil, povoado por seres muito mais fortes e violentos. Ainda hoje o medo nos protege do perigo real, presente em ambientes soturnos e mal iluminados, onde facilmente se esconderiam malfeitores de toda ordem. Porem é preciso considerar que nem todo ambiente desconhecido é perigoso, pois, muitas vezes, ao contrário do que se imaginava, tais logradouros proporcionam atalhos preciosos, fachadas exuberantes e pessoas do bem que se ressentem apenas da má sorte e do descaso da Companhia de Energia Elétrica. Conhecer esses lugares e usufruir de suas vantagens é algo que só experimentará aquele que impor a curiosidade e a racionalidade ao medo, demonstrando outra das facetas humanas, que é o impulso ao novo.

No entanto o impulso ao novo, sem o qual o ser humano sequer teria saído das cavernas, atualmente é encarado com receio pelos pais, muitas vezes ausentes do processo educativo em função do trabalho e temerosos que tamanha voluntariedade leve seus filhos ao encontro do mal, materializado na televisão e em páginas de jornal. Sendo assim, coíbe-se o impulso de conhecer para que não haja vontade de sair, criando-se uma sociedade que encara o desconhecido com desconfiança e medo, em lugar de um desejado ambiente de novidades...
Quando adulto, o jovem das quatro paredes encara uma mudança de ambiente e procedimentos com o mesmo sentimento de angustia com que encarava um quarto escuro ou um novo colégio na infância. Com a excitação de coisas novas ofuscada pelo medo do desconhecido, como esperar que esse adulto encare com naturalidade os desafios que se impõem em sua carreira num ambiente globalizado, onde o concorrente tem outra cultura e outra forma de reagir aos estímulos? Como esperar que esse adulto transite por infinitas variáveis, medindo com segurança a viabilidade de um determinado investimento ou de uma ação sem precedentes conhecidos?


      O que fazer para mudar o presente?

As empresas devem investir no treinamento de seus executivos e líderes, porem sem desprezar a realidade de que são feitos. Para ganhar legitimidade, os treinamentos devem tratar da desmotivação como o resultado de um processo cultural, e não apenas como um traço de personalidade, mesmo porque, se assim fosse, seria exceção e não regra.
Melhor do que um trabalho focado no emocional, que manda uma mensagem subjacente da qual pouco se absorve, os treinamentos voltados para o “público das quatro paredes” devem proporcionar uma mensagem clara, para ser apreendida pelo intelecto e, a partir daí, derivar para o emocional.
As vantagens da racionalidade foram e são utilizadas permanentemente pelo ser humano na submissão dos outros animais. Contudo este mesmo ser humano, tal qual os outros, é um animal dotado de poderosos sentimentos e instintos que se retroalimentam, ocupando vacuidades racionais. Sempre que tais espaços não são adequadamente ocupados por um conceito claro, racionalmente constituído, o instinto de sobrevivência se impõe e o coloca no canto da caverna, protegido pelo silêncio de sua inação.
Portanto, ampliar o domínio da razão significa minimizar a atuação dos instintos e, conseqüentemente, do medo que limita as ações. Esforçando-se por compreender o porquê da existência de temores sem sentido e se encarando sem máscaras num espelho sem distorções, o homem ocupa lacunas internas e reforça o arsenal humano, tornando-se cada vez mais e mais apto ao domínio do ambiente e de si mesmo.

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